terça-feira, 29 de maio de 2012

Texto semanal — 29/maio a 01/junho / 2012



Poema em Linha Reta

Fernando Pessoa (Álvaro de Campos)





Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo.
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.


quinta-feira, 24 de maio de 2012

Texto da semana

A volta


Da janela do trem o homem avista a velha cidadezinha que o viu nascer. Seus olhos se enchem de lágrimas. Trinta anos. Desce na estação – a mesma do seu tempo, não mudou nada – e respira fundo. Até o cheiro é o mesmo! Cheiro de mato e poeira. Só não tem mais cheiro de carvão porque o trem agora é elétrico. E o chefe da estação, será possível? Ainda é o mesmo. Fora a careca, os bigodes brancos, as rugas e o corpo encurvado pela idade, não mudou nada.
O homem não precisa perguntar como se chega ao centro da cidade. Vai a pé, guiando-se por suas lembranças. O centro continua como era. A praça. A igreja. A prefeitura. Até o vendedor de bilhetes na frente do Clube Comercial parece o mesmo.
— Você não tinha um cachorro?
— O Cusca? Morreu, ih, faz vinte anos.
O homem sabe que subindo a Rua Quinze vai dar num cinema. O Elite. Sobe a Rua Quinze. O cinema ainda existe. Mas mudou de nome. Agora é o Rex. Do lado tem uma confeitaria. Ah, os doces da infância... Ele entra na confeitaria. Tudo igual. Fora o balcão de fórmica, tudo igual. Ou muito se engana ou o dono ainda é o mesmo.
— Seu Adolfo, certo?
— Lupércio.
— Errei por pouco. Estou procurando a casa onde nasci. Sei que ficava ao lado de uma farmácia.
— Qual delas, a Progresso, a Tem Tudo ou a Moderna?
— Qual é a mais antiga?
— A Moderna.
— Então é essa.
— Fica na Rua Voluntários da Pátria.
Claro. A velha Voluntários. Sua casa está lá intacta. Ele sente vontade de chorar. A cor era outra. Tinham mudado a porta e provavelmente emparedado uma das janelas. Mas não havia dúvida, era a casa da sua infância. Bateu na porta. A mulher que abriu lhe parecia vagamente familiar. Seria...
— Titia?
— Puluca!
— Bem, meu nome é...
— Todos chamavam você de Puluca. Entre.
Ela lhe serviu licor. Perguntou por parentes que ele não conhecia. Ele perguntou por parentes de que ela não se lembrava. Conversaram até escurecer. Então ele se levantou e disse que precisava ir embora. Não podia, infelizmente, demorar-se em Riachinho. Só viera matar a saudade. A tia parecia intrigada.
— Riachinho, Puluca?
— É, por quê?
— Você vai para Riachinho?
Ele não entendeu.
— Eu estou em Riachinho.
— Não, não. Riachinho é a próxima parada do trem. Você está em Coronel Assis.
— Então eu desci na estação errada!
Durante alguns minutos os dois ficaram se olhando em silêncio. Finalmente a velha pergunta:
— Como é mesmo o seu nome?
Mas ele estava na rua, atordoado. E agora? Não sabia como voltar para a estação, naquela cidade estranha.



Luis Fernando Veríssimo. A mulher do Silva.
Porto Alegre. L&PM.



No dia 17/05 os alunos da “EMEF “RUY BARBOSA” compareceram ao Memorial
da América Latina para apreciarem a exposição “GUERRA E PAZ” de Portinari.




terça-feira, 15 de maio de 2012

Texto semanal — 14 a 18 / maio / 2012


Fernando Sabino

Leonora chegou-se para mim, a carinha mais limpa deste mundo:
          ― Engoli uma tampa de coca-cola.
          Levantei as mãos para o céu: mais esta agora! Era uma festa de aniversário, o aniversário dela própria, que completava seis anos de idade. Convoquei imediatamente a família:
          ― Disse que engoliu uma tampa de coca-cola.
          A mãe, os tios, os avós, todos a cercavam, nervosos e inquietos. Abre a boca, minha filha. Agora não adianta: já engoliu. Deve ter arranhado. Mas engoliu como? Quem é que engole uma tampa de cerveja? De cerveja, não: de coca-cola. Pode ter ficado na garganta – urgia que tomássemos uma providência, não ficássemos ali, feito idiotas. Peguei-a no colo: vem cá, minha filhinha, conta só para mim: você engoliu coisa nenhuma, não é isso mesmo? – Engoli sim, papai – ela afirmava com decisão. Consultei o tio, baixinho: o que é que você acha?
Ele foi buscar uma tampa de garrafa, separou a cortiça do metal:
― O que é que você engoliu: isto… ou isto?
― Cuidado que ela engole outra ― adverti.
― Isto ― e ela apontou com firmeza a parte de metal.
Não tinha dúvida: Pronto-socorro. Dispus a carregá-la, mas alguém sugeriu que era melhor que ela fosse andando: auxiliava a digestão.
          No hospital, o médico limitou-se a apalpar-lhe a barriguinha, cético:
          ― Dói aqui, minha filha?
          Quando falamos em radiografia, revelou-nos que o aparelho estava com defeito: só no pronto-socorro da cidade.
          Batemos para o Pronto-socorro da cidade. Outro médico nos atendeu com solicitude:
          ― Vamos já ver isto.
          Tirada a chapa, ficamos aguardando ansiosos a revelação. Em pouco o médico regressava:
          ― Engoliu foi a garrafa.
          ― A garrafa? ― exclamei. Mas era uma gracinha dele, cujo espírito passava muito ao largo da minha aflição: eu não estava para graças. Uma tampa de garrafa! Certamente precisaria operar ― não haveria de sair por si mesma.
          O médico pôs-se a rir de mim:

          ― Não engoliu coisa alguma. O senhor pode ir descansando.
          ― Engoli – afirmou a menininha.
          Voltei-me para ela:
          ― Como é que você ainda insiste, minha filha?
          ― Que eu engoli, engoli.
          ― Pensa que engoliu – emendei.
          ― Isso acontece – sorriu o médico: – Até com gente grande. Aqui já teve um guarda que pensou ter engolido o apito.
          ― Pois eu engoli mesmo – comentou ela, intransigente.
          ― Você não pode ter engolido ― arrematei, já impaciente: ― Quer saber mais do que o médico?
          ― Quero. Eu engoli, e depois desengoli ― esclareceu ela.
          Nada mais havendo a fazer, engoli em seco, despedi-me do médico e bati em retirada com toda a comitiva.
SABINO, Fernando. A vitória da infância. São Paulo: Editora Ática, 1994

segunda-feira, 14 de maio de 2012

DIA DAS MÃES NA ESCOLA

No último sábado, as mães de nossos alunos marcaram presença na escola.

Receberam suas merecidas homenagens!

Alunos das 4ª anos.

Alunos dos 3º anos.

Alunos dos 2º anos.

Alunos dos 1º anos.


O Canto Coral soltou a voz.



O aluno Leandro (8ªA) deu seu show.

Parabéns aos professores, que organizaram esta linda festa!!!
Obrigado mamãe, pela importantíssima presença!!!

HOMENAGEM AO DIA DAS MÃES

Mãe, olha eu aqui na escola!
clique aqui>http://www.youtube.com/watch?v=cbpBJx6JH60&feature=youtu.be

Sala da informática

Atividades realizadas pelos alunos dos Ensino Fundamntal I no laboratório de Informática.





Texto semanal


COMUNICAÇÃO

                                                                   Luis Fernando Veríssimo

          É importante saber o nome das coisas. Ou, pelo menos, saber comunicar o que você quer. Imagine-se entrando numa loja para comprar um... um... como é mesmo o nome?
          "Posso ajudá-lo, cavalheiro?"
          "Pode. Eu quero um daqueles, daqueles..."
          "Pois não?"
          "Um... como é mesmo o nome?"
          "Sim?"
          "Pomba! Um... um... Que cabeça a minha. A palavra me escapou por completo. É uma coisa simples, conhecidíssima."
          "Sim senhor."
          "O senhor vai dar risada quando souber."
          "Sim senhor."
          "Olha, é pontuda, certo?"
          "O que, cavalheiro?"
          "Isso que eu quero. Tem uma ponta assim, entende? Depois vem assim, assim, faz uma volta, aí vem reto de novo, e na outra ponta tem uma espécie de encaixe, entende? Na ponta tem outra volta, só que esta é mais fechada. E tem um, um... Uma espécie de, como é que se diz? De sulco. Um sulco onde encaixa a outra ponta, a pontuda, de sorte que o, a, o negócio, entende, fica fechado. É isso. Uma coisa pontuda que fecha. Entende?"
          "Infelizmente, cavalheiro..."
          "Ora, você sabe do que eu estou falando."
          "Estou me esforçando, mas..."
          "Escuta. Acho que não podia ser mais claro. Pontudo numa ponta, certo?"
          "Se o senhor diz, cavalheiro."
          "Como, se eu digo? Isso já é má vontade. Eu sei que é pontudo numa ponta. Posso não saber o nome da coisa, isso é um detalhe. Mas sei exatamente o que eu quero."
          "Sim senhor. Pontudo numa ponta."
          "Isso. Eu sabia que você compreenderia. Tem?"
          "Bom, eu preciso saber mais sobre o, a, essa coisa. Tente descrevê-la outra vez. Quem sabe o senhor desenha para nós?"
          "Não. Eu não sei desenhar nem casinha com fumaça saindo da chaminé. Sou uma negação em desenho."
          "Sinto muito."
          "Não precisa sentir. Sou técnico em contabilidade, estou muito bem de vida. Não sou um débil mental. Não sei desenhar, só isso. E hoje, por acaso, me esqueci do nome desse raio. Mas fora isso, tudo bem. O desenho não me faz falta. Lido com números. Tenho algum problema com os números mais complicados, claro. O oito, por exemplo. Tenho que fazer um rascunho antes. Mas não sou um débil mental, como você está pensando."
          "Eu não estou pensando nada, cavalheiro."
          "Chame o gerente."
          "Não será preciso, cavalheiro. Tenho certeza de que chegaremos a um acordo. Essa coisa que o senhor quer, é feito do quê?"
          "É de, sei lá. De metal."
          "Muito bem. De metal. Ela se move?"
          "Bem... É mais ou menos assim. Presta atenção nas minhas mãos. É assim, assim, dobra aqui e encaixa na ponta, assim."
          "Tem mais de uma peça? Já vem montado?"
          "É inteiriço. Tenho quase certeza de que é inteiriço."
          "Francamente..."
          "Mas é simples! Uma coisa simples. Olha: assim, assim, uma volta aqui, vem vindo, vem vindo, outra volta e clique, encaixa."
          "Ah, tem clique. É elétrico."
          "Não! Clique, que eu digo, é o barulho de encaixar."
          "Já sei!"
          "Ótimo!"
          "O senhor quer uma antena externa de televisão."
          "Não! Escuta aqui. Vamos tentar de novo..."
          "Tentemos por outro lado. Para o que serve?"
          "Serve assim para prender. Entende? Uma coisa pontuda que prende. Você enfia a ponta pontuda por aqui, encaixa a ponta no sulco e prende as duas partes de uma coisa."
          "Certo. Esse instrumento que o senhor procura funciona mais ou menos como um gigantesco alfinete de segurança e..."
          "Mas é isso! É isso! Um alfinete de segurança!"
          "Mas do jeito que o senhor descrevia parecia uma coisa enorme, cavalheiro!"
          "É que eu sou meio expansivo. Me vê aí um... um... Como é mesmo o nome?"



(Fonte: VERÍSSIMO, Luis Fernando. Comunicação. In: Amor Brasileiro. Porto Alegre: L&PM Editores S/A, 1999. p. 140-142.)

TEXTO MENSAL


UMA ANTIGA LENDA ÁRABE

Conta uma antiga lenda que na Idade Media um homem muito religioso foi injustamente acusado de ter assassinado uma mulher. Na verdade, o autor era pessoa influente do reino e por isso, desde o primeiro momento se procurou um "bode expiatório" para acobertar o verdadeiro assassino.

O homem foi levado a julgamento, já temendo o resultado: a forca. Ele sabia que tudo iria ser feito para condená-lo e que teria poucas chances de sair vivo desta história.

O juiz, que também estava combinado para levar o pobre homem a morte, simulou um julgamento justo, fazendo uma proposta ao acusado que provasse sua inocência.

Disse o juiz: sou de uma profunda religiosidade e por isso vou deixar sua sorte nas mãos do Senhor: vou escrever num pedaço de papel a palavra INOCENTE e no outro pedaço a palavra CULPADO.

Você sorteara um dos papéis e aquele que sair será o veredicto. O Senhor decidirá seu destino, determinou o juiz.

Sem que o acusado percebesse, o juiz preparou os dois papéis, mas em ambos escreveu CULPADO de maneira que, naquele instante, não existia nenhuma chance do acusado se livrar da forca.
Não havia saída.

Não havia alternativas para o pobre homem.
O juiz colocou os dois papéis em uma mesa e mandou o acusado escolher um.
O homem pensou alguns segundos e pressentindo a "vibração" aproximou-se confiante da mesa, pegou um dos papéis e rapidamente colocou na boca e engoliu.
Os presentes ao julgamento reagiram surpresos e indignados com a atitude do homem.

"Mas o que você fez?" E agora? Como vamos saber qual seu veredicto?"
"É muito fácil", respondeu o homem.
"Basta olhar o outro pedaço que sobrou e saberemos que acabei engolindo o contrário."

Imediatamente o homem foi liberado.

MORAL DA HISTORIA:

Por mais difícil que seja uma situação, não deixe de acreditar ate o ultimo momento.
Saiba que para qualquer problema há sempre uma saída.
Não desista, não entregue os pontos, não e deixe derrotar.
Persista, vá em frente apesar de tudo e de todos, creia que pode conseguir.

domingo, 6 de maio de 2012

TEXTO DA SEMANA


Madrastas e padrastos



Todo adulto deve aceitar sua responsabilidade em relação às crianças que convivem com ele

A família passou do singular ao plural.

Antes, havia "a família". Quando nos referíamos a essa instituição todos compartilhavam da mesma ideia: um homem e uma mulher unidos pelo casamento, seus filhos e mais os parentes ascendentes, descendentes e horizontais. E, como os filhos eram vários, a família era bem grande, constituída por adultos de todas as idades e mais novos também.

Pai, mãe, filhos, tios e tias, primos e primas, avós etc. eram palavras íntimas de todos, já que sempre se pertence a uma família. Quando as palavras "madrasta" ou "padrasto" ou mesmo "enteado" precisavam ser usadas para designar um papel em um grupo familiar, o fato sempre provocava um sentimento de pena. É que na época da família no singular isso só podia ter um significado: a morte de um dos progenitores.

E o que dizer, então, da expressão "filho de casal separado"? Nossa, isso só podia ser um mau sinal.

Mas essa ideia de família só sobreviveu intacta até os anos 60. Daí em diante "a família" se transformou em "as famílias". Os grupos familiares mudaram, as configurações se multiplicaram. Hoje, são tantas as formações que, creio eu, não conseguiríamos elencá-las.

O tamanho da família diminuiu - e não apenas por uma redução no número de filhos, mas também porque papéis antes tão íntimos tornaram-se distantes. Tios e tias ou mesmo primos e primas passaram a nomear antes pessoas próximas do que parentes de fato.

Aliás, as palavras tio e tia passaram a servir para os mais novos nomearem qualquer adulto: professora, médico, pai do colega, entre outros. E, às vezes, essas palavras até são usadas de forma pejorativa: quem não conhece uma propaganda de carro afirmando que o modelo não é para um "tiozão"?

Por outro lado, palavras antes distantes e temidas, como madrasta e padrasto, tornaram-se íntimas de muitas crianças e muitos jovens no tempo da família no plural. Um grande ganho no tempo da diversidade.

Mas há alguns problemas que precisamos enfrentar nesse contexto. O primeiro deles: qual é a responsabilidade das pessoas que assumem tais papéis perante os mais novos?

Conheço crianças que se referem a essas pessoas como "a namorada de meu pai" ou "o marido de minha mãe". Outras chamam as pessoas que ocupam esse lugar de tia ou tio. Poucas nomeiam essas pessoas de madrastas ou padrastos. O que isso pode significar?

Pode apontar, por exemplo, que nós ainda não conseguimos superar a antiga concepção dessas figuras, quando substituíam o lugar de alguém que havia morrido. Como hoje as pessoas estão bem vivas e exercendo ativamente seu papel de mãe ou pai, resta um constrangimento social com a palavra, não é?

Mas pode também significar que os adultos não aceitam sua responsabilidade no convívio com essas crianças. E essa recusa não se limita ao novo marido ou à nova mulher, mas também aos ex.

Compreensível, já que vivemos na era da posse absoluta dos filhos. Outro dia ouvi várias mães dizerem: "Na educação do MEU filho, ninguém se mete". Quem vai querer comprar essa briga?

Os mais novos perdem muito com essa nossa postura. Perdem oportunidades de uma relação educativa diferente e rica, por exemplo. E perdem o referencial de que todo adulto é responsável pelas crianças que com ele convivem. Ou não?

ROSELY SAYÃO  - psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (Publifolha)

sexta-feira, 4 de maio de 2012

RESULTADO DA VOTAÇÃO!!!

A GALERINHA VOTOU, A GALERINHA DECIDIU!!!

O NOME DA NOSSA RÁDIO É "RÁDIO CONEXÃO RUY BARBOSA"









quinta-feira, 26 de abril de 2012

Projetos da escola

"Reforço de Matemática"

Seu nome é Edna Inês Natalí de Demétrio. Ela é professora de ensino fundamental II e médio, sua disciplina é matemática. Seu projeto na escola é a recuperação de matemática e tem como objetivo nivelar a aprendizagem de todos os alunos (sem desigualdade). A recuperação vai fazer com que os alunos da “EMEF RUY BARBOSA” tenham um bom conhecimento para subir na vida com um ensino melhor. Ela diz que todos os alunos são maravilhosos e deixa uma mensagem para eles: “Faz parte da humanidade de um mestre advertir seus alunos contra ele mesmo.”

Por Rafaela Pan – 7ªB

terça-feira, 24 de abril de 2012

Projetos da escola

CURSO DE ALEMÃO



Seu nome é Miriam de Castro Dutra Carvalho. Ela é professora de Ensino Fundamental II e Médio, sua  disciplina é Língua Portuguesa. Fez faculdade de Letras e um curso de Alemão.

O Projeto “Alemão” tem como objetivo dar aos alunos da E.M.E.F. Ruy Barbosa a oportunidade de aprender uma segunda língua estrangeira gratuitamente. Espera que seus alunos tenham mais oportunidades de emprego e também que eles ampliem seus horizontes, aprendendo uma nova língua e uma nova cultura.
A professora deixa aqui a sua mensagem: aprender alemão pode mudar sua vida.


Fotos: Felipe 8ªA
Texto: Gabriela Bonome 6ªA



Exposição “Um jovem de São Paulo”


    Os professores Roberto, Mégui e  Marly propuseram a criação de uma exposição com o tema ‘Um jovem de São Paulo’ contendo produções dos alunos da EMEF Ruy Barbosa.
    Um painel foi  feito com desenhos de alguns alunos: Felipe, Gabriela, Juan, Brendha, Miriam, Lilian e Maria Vitoria- 8ªA; Giovani e Freddy- 8ªC e Barbara Borges-8ªD.
   
    Junto a esse painel ficaram os cartazes produzidos pelos alunos das 7ª e 8ª séries, e também as malas, com o intuito de mostrar a vida dos jovens paulistanos nos dias de hoje.

Fotos: Felipe 8ªA
Texto: Juan 8ªA

ACONTECEU NO RUY...

No dia 11/04/2012, os alunos das 8ªséries realizaram uma atividade    extraclasse no ABRIGO BEZERRA DE MENEZES.
Todas as oitavas séries fizeram um trabalho de recolhimento de doações para levar ao asilo como: Fraudas geriátricas; Sabonetes; Cremes dentais; Café
e Sabão em pó.
Os alunos agradecem a colaboração da galerinha do FUND. I, pois eles ajudaram bastante!


Fotos: Felipe e Maria Vitória 8ªA
Texto: Felipe 8ªA

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Texto semanal — 24 a 27 /abril / 2012


O Buscador

                                                                                  Jorge Bucay



Esta é a história de um homem a quem eu definiria como um “buscador”... Um “buscador” é alguém que busca, não necessariamente alguém que encontra. Também não é alguém que, necessariamente, sabe o que é que está buscando, é simplesmente alguém para quem sua vida é uma busca. Um dia, o “buscador” sentiu que deveria ir até a cidade de Kammir. Ele tinha aprendido a dar muita atenção a essas sensações que vinham de algum lugar desconhecido de si mesmo, e foi assim que deixou tudo e partiu.

Depois de dois dias a andar por caminhos cheios de poeira, de longe viu Kammir. Um pouco antes de chegar ao povoado, uma colina do lado direito da trilha chamou sua atenção. O local estava coberto de um verde maravilhoso e tinha muitas árvores, pássaros e flores encantadoras; o local estava rodeado por completo por uma espécie de cerca pequena de madeira lustrada. ...Uma portinha de bronze o convidava a entrar. De repente sentiu que esquecia o povoado e sucumbiu à tentação de descansar por um instante nesse lugar. O “buscador” atravessou a portinha e começou a caminhar muito devagar entre as pedras brancas que estavam espalhadas aleatoriamente entre as árvores. Deixou que seus olhos pousassem como borboletas em cada detalhe daquele paraíso multicolor. Seus olhos eram os de um “buscador”, e talvez por esse motivo descobriu sobre uma das pedras, aquela inscrição...: Abdul Tareg, viveu 8 anos, 6 meses, 2 semanas e 3 dias. Ficou um pouco surpreso ao perceber que essa pedra não era apenas uma pedra, era uma lápide. Sentiu muita tristeza pensando que uma criança de tão tenra idade estava enterrada nesse lugar. Olhando ao redor, o homem percebeu que a pedra que estava ao lado também tinha uma inscrição. Aproximou-se para poder ler, dizia: Yamir Kalib, viveu 5 anos, 8 meses e 3 semanas. O “buscador” sentiu-se terrivelmente abalado. Esse belo local era um cemitério e cada pedra, um túmulo. Uma por uma começou a ler as lápides. Todas tinham inscrições parecidas: um nome e o tempo exato de vida do morto. Mas o que o espantou realmente, foi comprovar que a pessoa que mais tempo tinha vivido passava de apenas 11 anos...

Abalado por uma terrível dor, sentou-se e começou a chorar. O vigia do cemitério, que passava pelo local, se aproximou. Observou o homem chorando em silêncio por alguns instantes e depois perguntou se chorava por algum familiar. - Não, familiar nenhum – respondeu o “buscador” – que acontece com este povoado? Que coisa tão terrível tem esta cidade? Por que tantas crianças mortas enterradas neste lugar? Qual é a horrível maldição que tem esta gente, que tenha exigido construir um cemitério só para crianças? O ancião sorriu e disse: - Pode ficar tranquilo. Não tem maldição alguma. O que acontece é que aqui temos um velho costume. Vou contar pra você... Quando um jovem faz 15 anos, seus pais dão-lhe de presente um caderninho, como este aqui, pendurado no meu pescoço. E é tradição entre nós que, a partir daquele momento, cada vez que a gente desfruta intensamente alguma coisa, abre o caderninho e anota nele: À esquerda, o que foi desfrutado... À direita, quanto tempo durou. Conheceu sua namorada, apaixonou-se por ela, quanto tempo durou essa paixão enorme e o prazer de conhecê-la? Uma semana? Duas? Três semanas e meia?... E depois... a emoção do primeiro beijo, o prazer maravilhoso do primeiro beijo, quanto durou? O minuto e meio do beijo? Dois dias? Uma semana? ... A gravidez ou o nascimento do primeiro filho... O casamento dos amigos... A viagem mais desejada... O encontro com o irmão que volta de um país distante. Quanto tempo durou desfrutar dessas situações? Horas? Dias? Quando alguém morre, é nosso costume abrir seu caderno e somar o tempo de todas as coisas desfrutadas, para escrever sobre o túmulo. Porque esse é, para nós, o único e verdadeiro tempo vivido.

Texto semanal — 10 a 13 /abril / 2012


O Sonho dos Ratos

Rubem Alves

Era uma vez um bando de ratos que vivia no buraco do assoalho de uma casa velha. Havia ratos de todos os tipos: grandes e pequenos, pretos e brancos, velhos e jovens, fortes e fracos, da roça e da cidade.

Mas ninguém ligava para as diferenças, porque todos estavam irmanados em torno de um sonho comum: um queijo enorme, amarelo, cheiroso, bem pertinho dos seus narizes. Comer o queijo seria a suprema felicidade... Bem pertinho é modo de dizer.

Na verdade, o queijo estava imensamente longe porque entre ele e os ratos estava um gato... O gato era malvado, tinha dentes afiados e não dormia nunca. Por vezes fingia dormir. Mas bastava que um ratinho mais corajoso se aventurasse para fora do buraco para que o gato desse um pulo e, era uma vez um ratinho... Os ratos odiavam o gato.

Quanto mais o odiavam mais irmãos se sentiam. O ódio a um inimigo comum os tornava cúmplices de um mesmo desejo: queriam que o gato morresse ou sonhavam com um cachorro...

Como nada pudessem fazer, reuniram-se para conversar. Faziam discursos, denunciavam o comportamento do gato (não se sabe bem para quem), e chegaram mesmo a escrever livros com a crítica filosófica dos gatos. Diziam que um dia chegaria em que os gatos seriam abolidos e todos seriam iguais. "Quando se estabelecer a ditadura dos ratos", diziam os camundongos, "então todos serão felizes"...

- O queijo é grande o bastante para todos, dizia um.

- Socializaremos o queijo, dizia outro.

Todos batiam palmas e cantavam as mesmas canções.

Era comovente ver tanta fraternidade. Como seria bonito quando o gato morresse! Sonhavam. Nos seus sonhos comiam o queijo. E quanto mais o comiam, mais ele crescia. Porque esta é uma das propriedades dos queijos sonhados: não diminuem: crescem sempre. E marchavam juntos, rabos entrelaçados, gritando: "o queijo, já!".

Sem que ninguém pudesse explicar como, o fato é que, ao acordarem, numa bela manhã, o gato tinha sumido. O queijo continuava lá, mais belo do que nunca. Bastaria dar uns poucos passos para fora do buraco. Olharam cuidadosamente ao redor. Aquilo poderia ser um truque do gato. Mas não era.

O gato havia desaparecido mesmo. Chegara o dia glorioso, e dos ratos surgiu um brado retumbante de alegria. Todos se lançaram ao queijo, irmanados numa fome comum. E foi então que a transformação aconteceu.

Bastou a primeira mordida. Compreenderam, repentinamente, que os queijos de verdade são diferentes dos queijos sonhados. Quando comidos, em vez de crescer, diminuem.

Assim, quanto maior o número dos ratos a comer o queijo, menor o naco para cada um. Os ratos começaram a olhar uns para os outros como se fossem inimigos. Olharam, cada um para a boca dos outros, para ver quanto queijo haviam comido. E os olhares se enfureceram.

Arreganharam os dentes. Esqueceram-se do gato. Eram seus próprios inimigos. A briga começou. Os mais fortes expulsaram os mais fracos a dentadas. E, ato contínuo, começaram a brigar entre si.

Alguns ameaçaram a chamar o gato, alegando que só assim se restabeleceria a ordem. O projeto de socialização do queijo foi aprovado nos seguintes termos:

“Qualquer pedaço de queijo poderá ser tomado dos seus proprietários para ser dado aos ratos magros, desde que este pedaço tenha sido abandonado pelo dono”.

Mas como rato algum jamais abandonou um queijo, os ratos magros foram condenados a ficar esperando. Os ratinhos magros, de dentro do buraco escuro, não podiam compreender o que havia acontecido.

O mais inexplicável era a transformação que se operara no focinho dos ratos fortes, agora donos do queijo. Tinham todo o jeito do gato o olhar malvado, os dentes à mostra.

Os ratos magros nem mais conseguiam perceber a diferença entre o gato de antes e os ratos de agora. E compreenderam, então, que não havia diferença alguma. Pois todo rato que fica dono do queijo vira gato. Não é por acidente que os nomes são tão parecidos.

"Qualquer semelhança com fatos reais é mera coincidência!"

“Dialogando através de textos”


Rosely Sayão

Invasão de especialistas



Na escola, o mau uso de princípios teóricos da psicologia deu um aspecto moralista a essa disciplina



No princípio, era a escola com seus alunos e professores. Uniformes impecáveis, comportamentos idem, disciplina militar, regras de todos os tipos, alunos em geral obedientes, passivos, temerosos.

Quando o aluno cometia alguma falta, era imediatamente penalizado: era obrigado a escrever muitas vezes alguma frase, ficar no canto da sala, levar puxão de orelha etc. A suspensão e a expulsão também eram punições aplicadas de modo exemplar.

Há quem sinta uma certa nostalgia dessa escola, que assim permaneceu pelo menos até o início dos anos 60. O que não se costuma considerar é que essa escola era para poucos, bem poucos. Para os alunos que não precisavam que a escola, de fato, exercesse seu papel.

Para bem funcionar, essa escola distribuía vereditos: alunos que não aprendiam como a média dos colegas eram simplesmente considerados inaptos para o estudo escolar. E ponto final.

Na década de 60 surgiram novas teorias da educação que traziam o anseio de alunos mais participativos em seu processo escolar e condenavam muitos dos castigos até então aplicados. Novos ares tomaram conta da escola. Nos anos 70, a instituição se abriu para muitos alunos novos que, antes, não tinham lugar na escola.

Mudou muita coisa, mas quero chamar a atenção para uma nova presença no espaço escolar: a dos psicólogos. A proposta da entrada desses profissionais na escola era bem interessante: colaborar para que o ensino fosse democrático, ou seja, garantir que todo tipo de aluno pudesse aprender.

Mas essa proposta não vingou. Diagnósticos "psi", atendimentos clínicos na escola e o mau uso de princípios teóricos da psicologia deram um ar moralista a essa disciplina do conhecimento no espaço escolar. Logo depois chegaram também os fonoaudiólogos, os fisioterapeutas, os psicopedagogos....

Não parou aí. Na sequência, os médicos foram convidados e/ou se convidaram a entrar na escola também e os diagnósticos médicos explicando e justificando as mais diversas questões dos alunos passaram a ter presença regular na instituição.

No princípio, era a escola com seus alunos e seus professores; agora temos alunos, professores, psicólogos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, psicopedagogos e médicos das mais diferentes especialidades. São os chamados especialistas.

Você pensa, caro leitor, que vamos parar por aí? Nem pensar. Agora há outro profissional entrando pela porta da frente da escola e interferindo nela: os advogados.

Atualmente, muitos pais têm procurado advogados para que eles garantam o que consideram um direito do filho ou para que processem a escola por ter agido mal ou por não ter agido em situações bem diversas, como notas, relacionamento com colegas, relacionamento com professores, aprovações, retenções, fatos que repercutem nas redes sociais e envolvem alunos da mesma escola etc.

Estamos vendo a inauguração de uma cultura escolar.

No princípio, era a escola com seus alunos e professores; agora temos a relação entre aluno e professor com a interferência de vários outros especialistas, inclusive médicos e advogados.

Deveríamos nos interessar em saber como fica a relação que deveria ser a mais preciosa - entre professor e aluno - com a intervenção de tantos outros profissionais alheios à educação escolar.



ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho" (Publifolha)

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Srs. Pais,

                        Sabemos como era a relação entre professor e aluno até alguns anos atrás. Mas, e agora, como os senhores acham que está ficando essa preciosa relação com a intervenção de profissionais de outras áreas estranhas à educação na vida escolar de nossos filhos? Lembrando que os serviços de que de fato necessitamos (fono., psico., por ex) não estão disponíveis na rede pública, com a rapidez de que a Escola gostaria para os encaminhamentos.
Equipe da EMEF “Ruy Barbosa

quarta-feira, 21 de março de 2012

SALA DE LEITURA


*Na última semana, a Professora Miriam esteve na livraria Cultura para comprar novos exemplares de livros e, assim, aumentar  o nosso acervo da Sala de Leitura.*


Há luz brilhante no Ruy Barbosa!

Poema campeão do cuncurso Por trás da Máscara...

... escrito pelo aluno Felipe Bisan, 8ªB.

quinta-feira, 8 de março de 2012

DIALOGANDO ATRAVÉS DO TEXTO

O QUE AS ESCOLAS NÃO ENSINAM
                                             Bill Gates


Aqui estão alguns conselhos que Bill Gates, recentemente deu em uma conferência, numa escola secundária sobre 11 coisas, que estudantes não aprenderiam na escola. Ele fala sobre, “como a política educacional de vida fácil para as crianças”, tem criado uma geração sem conceito da “realidade”, e como esta política tem levado a falharem, em suas vidas posteriores à escola.

Regra 1: A vida não é fácil.  Acostume-se com isso.

Regra 2: O mundo não está preocupado com a sua autoestima.  O mundo espera que você faça alguma coisa de útil por ele, antes de sentir-se bem com você mesmo.

Regra 3: Você não ganhará vinte mil dólares por mês assim que sair da escola.  Você não será vice-presidente de uma grande empresa, com um carrão e um telefone à sua disposição, antes que você tenha conseguido comprar seu próprio carro e ter seu próprio telefone.

Regra 4: Se você acha que seu pai ou seu professor são rudes, espere até ter um chefe.
Ele não terá pena de você.

Regra 5: Vender jornal velho ou trabalhar durante as férias não está abaixo da sua posição social.  Seus avós tinham uma palavra diferente para isso.  Eles chamavam isso de “oportunidade”.
Regra 6: Se você fracassar não ache que a culpa é de seus pais.  Não lamente seus erros, aprenda com eles!

Regra 7: Antes de você nascer seus pais não eram tão críticos como agora.  Eles só ficaram assim por pagarem suas contas, lavar suas roupas e ouvir você dizer que eles são “ridículos”.  Então, antes de tentar salvar o planeta para a próxima geração, querendo consertar os erros da geração dos seus pais, tente arrumar o seu próprio quarto.

Regra 8: Sua escola pode ter criado trabalhos em grupo a distinção entre vencedores e perdedores, mas a vida não é assim.  Em algumas escolas você não repete mais de ano e tem quantas chances precisar até acertar.  Isto não se parece com absolutamente NADA na vida real.  Se pisar na bola está despedido… RUA! Faça certo da primeira vez.

Regra 9: A vida não é dividida em semestres.  Você não terá sempre os verões livres e é pouco provável que outros empregados o ajudem a cumprir suas tarefas no fim de cada período...

Regra 10: Televisão não é vida real.  Na vida real, as pessoas têm que deixar o barzinho ou a boate e ir trabalhar.

Regra 11: Seja legal com os CDF’s (aqueles estudantes que os demais julgam que são uns bobos).  Existe uma grande probabilidade de você vir a trabalhar para um deles.


Reflita sobre as palavras de Bill Gates e deixe seu comentário.

segunda-feira, 5 de março de 2012

TEXTO DA SEMANA (de 05 a 09 de março)

A vida sem celular
                            Walcyr Carrasco

    O inevitável aconteceu: perdi meu celular. Estava no bolso da calça. Voltei do Rio de Janeiro, peguei um táxi no aeroporto. Deve ter caído no banco e não percebi. Tentei ligar para o meu próprio número. Deu caixa postal. Provavelmente eu o desliguei no embarque e esqueci de ativá-lo novamente. Meu quarto parece uma trincheira de guerra de tanto procurá-lo. Agora me rendo: sou um homem sem celular.

    O primeiro sentimento é de pânico. Como vou falar com meus amigos? Como vão me encontrar? Estou desconectado do mundo. Nunca botei minha agenda em um programa de computador, para simplesmente recarregá-la em um novo aparelho. Será árduo garimpar os números da família, amigos, contatos profissionais. E se alguém me ligar com um assunto importante? A insegurança é total.

  Reflito. Podem me achar pelo telefone fixo. Meus amigos me encontrarão, pois são meus amigos. Eu os buscarei, é óbvio. Então por que tanto terror?

  Há alguns anos - nem tantos assim - ninguém tinha celular. A implantação demorou por aqui, em relação a outros países. E a vida seguia. Se alguém precisasse falar comigo, deixava recado. Depois eu chamava de volta. Se estivesse aguardando um trabalho, por exemplo, eu ficava esperto. Ligava perguntando se havia novidades. Muitas coisas demoravam para acontecer. Mas as pessoas contavam com essa demora. Não era realmente ruim.

   Saía tranquilo, sem o risco de que me encontrassem a qualquer momento, por qualquer bobagem. A maior parte das pessoas vê urgência onde absolutamente não há. Ligam afobadas para fazer uma pergunta qualquer. Se não chamo de volta, até se ofendem.

   - Eu estava no cinema, depois fui jantar, bater papo.

   - É... Mas podia ter ligado!

   Como dizer que podia, mas não queria?

   Vejo motoristas de táxi tentando se desvencilhar de um telefonema.

   - Agora não posso falar, estou dirigindo.

   - Só mais uma coisinha...

   Fico apavorado no banco enquanto ele faz curvas e curvas, uma única mão no volante. Muita gente não consegue desligar mesmo quando se explica ser impossível falar. Dá um nervoso!

   A maioria dos chefes sente-se no direito de ligar para o subordinado a qualquer hora. Noites, fins de semana, tudo submergiu numa contínua atividade profissional. No relacionamento pessoal ocorre o mesmo.

   - Onde você está? Estou ouvindo uma farra aí atrás.

   - Vendo televisão! É um comercial de cerveja!

   Um amigo se recusa a ter celular.

   - Fico mais livre.

   Às vezes um colega de trabalho reclama:

   - Precisava falar com você, mas não te achei.

   - Não era para achar mesmo.

   Há quem desfrute o melhor. Conheço uma representante de vendas que trabalha na praia durante o verão. Enquanto torra ao sol, compra, vende, negocia. Mas, às vezes, quando está para fechar o negócio mais importante do mês, o aparelho fica fora de área. Ela quase enlouquece!

  Pois é. O celular costuma ficar fora de área nos momentos mais terríveis. Parece de propósito! Como em um recente acidente automobilístico que me aconteceu. Eu estava bem, mas precisava falar com a seguradora. O carro em uma rua movimentada. E o celular mudo! Quase pirei! E quando descarrega no melhor de um papo, ou, pior, no meio da briga, dando a impressão de que desliguei na cara?

   Na minha infância, não tinha nem telefone em casa. Agora não suporto a ideia de passar um dia desconectado. É incrível como o mundo moderno cria necessidades. Viver conectado virou vício. Talvez o dia a dia fosse mais calmo sem celular. Mas vou correndo comprar um novo!